Questão 1
(Enem 2011)
Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural.
c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.
Questão 2
(Enem 2000)
“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)
Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
a) Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.
Questão 3
Sobre a poesia de Manuel Bandeira, é correto afirmar apenas:
a) Manuel Bandeira criou uma poesia rica em construção e significação, apesar de sua aparência quase prosaica, conciliando crítica social e reflexão filosófica acerca da condição humana. Foi o responsável pelo alargamento da lírica nacional e pela solidificação da poesia de orientação modernista.
b) É dele a obra Pauliceia Desvairada, primeira obra de fato modernista, cumprindo o papel de destruir os padrões literários vigentes e propor uma nova linguagem poética, baseada no verso livre, nas rupturas sintáticas, nos neologismos e nos flashes cinematográficos.
c) Sua obra representa um dos cortes mais profundos do modernismo brasileiro em relação à cultura do passado. Propôs uma ruptura com os padrões da língua literária culta em busca de uma língua brasileira, que incorporasse todos os “erros gramaticais”, que constituíam, para ele, um símbolo de nacionalidade.
d) A poesia de Manuel Bandeira foi a primeira a estabelecer um corte profundo entre a poesia romântica e a poesia moderna. Para o poeta, a poesia não é fruto de inspiração nem de estados emocionais; ela resulta de um trabalho racional, árduo, que busca a construção do poema perfeito.
Questão 4
Assinale a alternativa que contém as principais características do estilo de Manuel Bandeira:
a) Sua escrita é direta e simples, quase prosaica, muito embora tenha tido grande conhecimento das formas clássicas de estruturação de poemas, elementos que também podem ser encontrados em sua obra.
b) Sua linguagem é marcada pelo experimentalismo e bastante influenciada pela linguagem popular. Buscou a recriação da linguagem a partir do contato com os falares regionais, defendendo os “erros” gramaticais como expressão maior de nossa brasilidade.
c) Sua linguagem é permeada pelo uso do coloquialismo e inovações. Algumas de suas obras apresentam características mais calmas e intimistas, enquanto outras trazem a política e as críticas para o debate literário.
d) Introduziu novas características à literatura nacional por meio do experimentalismo. Sua obra apresenta características intimistas, com foco no inconsciente das personagens. Defendeu a morte do eu lírico, já que acreditava que a poesia deveria afastar-se do sentimentalismo e aproximar-se da geometrização da linguagem.
Resposta Questão 1
Alternativa “b”. Manuel Bandeira, a partir do contraste lírico entre campo e cidade, revela a percepção do caráter efêmero da vida (mais especificamente nos dois últimos versos do poema), uma vez que tece observações sobre o cotidiano da vida rural, que, apesar de ser monótono, mantém a individualidade de cada membro seu.
Resposta Questão 2
Alternativa “e”. Depois de caracterizar e repudiar o lirismo tradicional — interpretado como mecânico —, Manuel Bandeira propõe e ilustra o lirismo modernista, fundado na sinceridade e no espontaneísmo. Bandeira chama esse novo lirismo de “libertação”.
Resposta Questão 3
Alternativa “a”. b) Mário de Andrade. c) Oswald de Andrade. d) João Cabral de Melo Neto.
Resposta Questão 4
Alternativa “a”. Bandeira ficou conhecido como “mestre do verso livre” por associar perfeitamente forma e conteúdo. Grande conhecedor da métrica, Bandeira atuou como professor de Literatura, portanto possuía grande conhecimento sobre o tema. Alternativa b: Graciliano Ramos. Alternativa c: Mário de Andrade. Alternativa d: Clarice Lispector.