Questão 1
(UFBA – 2000)
Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...
Assinale as características da poesia de Caeiro comprováveis no texto.
I. Repúdio ao misticismo
II. Desejo de integração plena com a natureza.
III. Valorização das sensações visuais.
IV. Percepção de fragmentos de realidade.
V. Descompromisso com o futuro.
VI. Visão de mundo marcada pela simplicidade do existir tão somente.
VII. Negação da interioridade das coisas.
a) II, III, IV e VI.
b) I, III, IV e VI.
c) I, V e VII.
d) IV e V.
e) VI e VII.
Questão 2
(PUC – SP/2006)
Considerando a poética de Alberto Caeiro, é correto afirmar que nela:
a) o entendimento do mundo e a interpretação da realidade resultam do extremo racionalismo do eu lírico.
b) a sensação do mundo e a radical opção pela natureza se fazem presentes, ao mesmo tempo que se dá a negação radical da metafísica e das transcendências.
c) o conhecimento direto das coisas e do mundo advém fundamentalmente da razão e mostra-se desvinculado da sensação.
d) o conceito de paganismo, presente na obra poética de Caeiro, define-se por uma postura anticristã e pela negação do conhecimento do mundo sensível.
e) o contato com a natureza e o conceito direto das coisas impedem, na obra, a existência de uma lógica igual a da ordem natural.
Questão 3
Sobre Alberto Caeiro, é correto afirmar apenas:
a) Entre os heterônimos de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é considerado o mestre, aquele, conforme a definição de seu criador, que escreve “por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever”.
b) Considerado como um alter ego de Fernando Pessoa, Caeiro talvez seja sua personalidade literária mais elaborada, cuja escrita pode ser dividida em três diferentes fases: fase decadentista, fase futurista/sensacionista e fase intimista/pessimista.
c) É um semi-heterônimo parecido com Álvaro de Campos, muito próximo de Fernando Pessoa e, conforme o próprio escritor, "não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afetividade."
d) Apresenta uma linguagem culta e clássica em poemas que fazem alusões à mitologia grega. É pouco espontâneo e, em sua poesia, predomina um tom sentencioso de caráter moralizante. Não se sente feliz e integrado à natureza, acredita ser o fruto de uma sociedade decadente que caminha para a destruição.
Questão 4
Não Tenho Pressa
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Sobre o poema de Alberto Caeiro estão corretas as alternativas:
I. Alberto Caeiro é o mais objetivo dos heterônimos. Busca o objetivismo absoluto, eliminando todos os vestígios da subjetividade. Tal característica pode ser percebida no verso Toco só onde toco, não aonde penso.
II. A oposição radical ao intelectualismo, à abstração, à especulação metafísica e ao misticismo estão presentes no verso Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega / Nem um centímetro mais longe. / Toco só onde toco, não aonde penso. / Só me posso sentar aonde estou.
III. O poema é influenciado pelo futurismo, e o fascínio pelas máquinas e pelo progresso está evidenciado nos versos Não tenho pressa. Pressa de quê? / Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
IV. Podemos encontrar no poema em questão muitas alusões mitológicas, além de uma linguagem culta e precisa, sem qualquer espontaneidade, características evidenciadas no verso Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas
V. O bucolismo é uma das principais características da poesia de Alberto Caeiro, heterônimo que defendeu a simplicidade da vida, extraindo seus pensamentos do contato com a natureza e da vida simples. Tal característica está evidenciada no verso Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
a) III e IV.
b) I, III e V.
c) I, II e V.
d) II e V.
e) I, II e IV.
Resposta Questão 2
Alternativa “b”. Heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro utilizava uma linguagem simples e direta, negando questões metafísicas, a subjetividade e a introspecção, elementos tão comuns para tantos poetas.
Resposta Questão 3
Alternativa “a”. As proposições fazem referência aos seguintes heterônimos: b) Álvaro de Campos. c) Bernardo Soares. d) Ricardo Reis.
Resposta Questão 4
Alternativa “c”. III. Álvaro de Campos: É um homem voltado para o presente e sua poesia buscava transmitir o espírito do mundo moderno. Sua obra pode ser dividida em três fases: decadentista, futurista e intimista. É considerado a personagem literária mais desenvolvida de Fernando Pessoa. IV. Ricardo Reis: Heterônimo de Pessoa que valorizava a vida campestre e a simplicidade das coisas, mas ao contrário de Caeiro, ele não se sente feliz e integrado à natureza.